01 agosto 2012

Márcio Ribeiro - O Sargento Chip’s


Entrevista do Blog GCM Motociclista - por Dennis Guerra


                                                           LASPD: Sargento Chip´s Márcio Ribeiro
GCM 1° Classe Marcio Ribeiro, ao centro

O GCM 1° Classe Marcio Ribeiro, Sargento Honorário da Patrulha Rodoviária da Califórnia  - Chip’s (EUA) e instrutor de Primeiros Socorros da Guarda Civil Metropolitana de São Paulo, estagiou na Polícia da Califórnia por iniciativa própria e representou o Brasil em um congresso na cidade de Reno - Nevada (EUA). No evento, que se realiza bienalmente, é apresentado um perfil dos programas de proteção escolar em cada país participante. Pelo entusiasmo e história de vida, o GCM Ribeiro tornou-se uma referência nas guardas municipais de todo o país.  Vamos descobrir um pouco mais sobre essa valorosa história através dessa entrevista exclusiva ao Blog GCM Motociclista Guerra, direto dos Estados Unidos.
DG – Sargento Marcio Ribeiro, quem é o homem além do mito?
SMR - Inicialmente não sou um mito nem uma lenda: sou a simplicidade, a garra e determinação. Sou casado a 19 anos, tenho dois filhos uma de quatorze e um filho de dezessete, trabalho em São Paulo e moro no Interior. Depois da morte de meu irmão mais velho, que era policial militar paraplégico o ano passado, sua casa nos trazia muitas lembranças. (...)




DG – Sargento, muitas pessoas acreditam que a sua relação com as Forças de Segurança dos Estados Unidos começou com o seu ingresso na Guarda Civil Metropolitana. Conte-nos a respeito.
SMR - Minha relação com os EEUU começou bem antes de ser GCM: entorno de 27 anos! Só com a patrulha dos Caminhos da Califórnia são 17 desde o meu estágio de 1995. Bem, na verdade começou em 1985 quando era office-boy e entregava documentos no consulado que ficava na Rua Padre João Manoel, uma das travessas da Avenida Paulista. Em uma das visitas tive a curiosidade de conhecer a Biblioteca que ficava dentro do consulado e era de livre acesso. Lá conheci um dos Marines. Ele falava espanhol e como é uma língua parecida com a nossa, trocamos endereços e telefones e está ai uma amizade que dura até hoje! Ele entrou para a polícia e hoje é um Deputy Chief,  espécie de Major da Policia.
DG – Quando o senhor desembarcou nos Estados Unidos pela primeira vez, como foi a recepção?
SMR - O Estado da Califórnia, por ter um grande número de visitantes, é um lugar fechado para alguns assuntos, principalmente quando se refere à segurança. Imaginem em 1995, quando estive pela primeira vez para um estágio nas policias: duas municipais e uma estadual. Todas mandaram uma viatura, porque achavam que Eu estava com uma delegação de policiais do Brasil, buscando aprimoramento para o seu governo. Foi uma briga para decidir quem levava a mala! Mas no fim deu tudo certo.


DG – Existe uma questão que gera dúvidas em muitas pessoas que acompanham a sua trajetória. Na verdade, o senhor não foi aos Estados Unidos para se tornar um policial efetivo, e sim fazer um estágio. Como se dá esse estágio e quem pode participar? 

SMR - Em meus diversos contatos por carta (naquela época não existia e-mail, uma carta levava até 15 dias para chegar a seu destino, hoje falo com eles por scape em tempo real) em uma época anterior ao atentado do WTC – World Trade Center, em Nova York, eles tinham uma politica para treinamentos. Hoje é totalmente diferente: só atendem se houver uma indicação. No caso do Brasil este assunto é gerenciado pelo Ministério da Justiça, pela Secretaria Nacional de Segurança Pública. O governo dos Estados Unidos oferece todos os anos números de cursos e vagas e o MJ direciona aos Estados e Municípios.

DG – Durante esse estágio, o senhor chegou a trabalhar nas ruas com os policiais americanos, fazendo até mesmo a prisão de um assaltante de banco. Como foi isso?

SMR - No estágio de 95, tive a oportunidade de realizar várias abordagens e auxílios ao público, porque na América eles tem como missão principal servir e proteger. O destaque, acredito, a que o senhor se refere foi um assalto a banco no qual realizei a restrição do marginal com uma calibre 12 da viatura ou Shotgun, como eles chamam por lá.

DG – Quando o senhor visitou a casa de um policial americano, ele lhe mostrou as armas de sua coleção e perguntou sobre que tipos de armas eram utilizadas no Brasil. Fale a respeito.

SMR - O americano é fascinado por armas! Você pode comprar até com algumas facilidades Magnun, Colt, HK entre outras. Mas as leis são rígidas e lá em alguns Estados existe a Lei Capital (cadeira elétrica, injeção letal entre outros).


DG – O senhor chegou a ser entrevistado pelo Jo Soares a alguns anos. Como foi receber esse convite?

SMR - Como hábito,  tenho o costume de escrever cartas e enviei à produção do Jó Soares. A minha carta foi selecionada e para que não assistiu esta entrevista segue o link abaixo. Fazem alguns anos, mas muitas coisas não mudaram, infelizmente!

DG – Desde a sua primeira viagem aos Estados Unidos o senhor recebe convites para retornar, mantendo assim um intercâmbio técnico e cultural. Como é essa relação com outras polícias?
SMR – Bem, a relação hoje é muito maior do que em 1995/2000. Um exemplo foi ser indicado para representar o País na Conferência das Polícias de Escola e Universidades dos EEUU e Canadá, na Cidade de Reno, no Estado de Nevada. Haviam representantes dos 50 Estados dos Estados Unidos e das Províncias do Canadá: Alberta, Colúmbia Britânica, Manitoba, Nova Brunswick, Terra Nova e Labrador, Nova Escócia, Ontário, Ilha do Príncipe Eduardo, Quebec, e Saskatchewan e também territórios do Noroeste: Nunavut, e Yukon. Hoje sou uma referência para eles, que querem conhecer a nossa cultura. Eles esperam estar aqui em 2014/2016, e devem me pedir referências das polícias dos Estados e Municípios para futuros contatos.

DG – O senhor afirmou que, a cada dois anos, poderia indicar até 200 profissionais de segurança pública para estagiar nos Estados Unidos por meio desse intercâmbio. Quantos profissionais conseguiu indicar até hoje com apoio do governo brasileiro?

SMR - Adoraria indicar muitos excelentes profissionais, mas como sou um zero à esquerda aqui, não tenho todo este poder. Infelizmente não pude indicar ninguém. Alguns ainda me discriminam ou me tratam como uma pessoa que precisa de tratamento psiquiátrico. Na minha opinião, muitos não sabem ou não procuram saber e tem indiferença para com aqueles que buscam trazer conhecimento a todos!

DG – Neste momento, o senhor está na cidade de Reno, hospedado em um hotel-cassino com 1100 quartos e forte esquema de segurança de agências americanas e canadenses. Como é sair do Parque Elisa Maria - São Paulo - e encontrar essa realidade?
SMR - Eu e minha filha de quatorze anos ficávamos nos beliscando para ver se estávamos sonhando ou dormindo e se daqui a pouco esse sonho acabaria. Mas era realidade! Éramos rastreados, até na hora de ir ao saguão do hotel retirar ou entregar as chaves. A recepcionista me chamava pelo primeiro nome: como é que ela sabia, sendo que uma hora estava com uma roupa ou uniforme e cada hora era um recepcionista diferente? Estávamos com todas as agências de segurança do DEA aos Federais, ATF, US-Marshall as State Troopers, New Orleans PD entre outras diversas. Em um quarto de carpete, onde a cama de solteiro é cama de casal no Brasil!
DG – Nessa viagem, o senhor foi acompanhado por sua filha. Como tem sido o apoio de sua família durante esses anos?
SMR - Sem eles não sei se estaria na polícia hoje. Eles são a minha inspiração para nunca desistir. A opção de levar a filha foi porque meu filho mais velho teve de realizar uma cirurgia, ficando com a minha esposa e a conferência exige a presença de um familiar como acompanhante, aí foi bom para minha filha que já fala spanish com fluência.


DG – Diversas prefeituras do Brasil encaminharam, a seu convite, apresentação de programas do município com foco na segurança do cidadão e para a troca de experiências. O resultado está sendo positivo?
SMR - Antes de minha, enviei uma carta para os 26 Estados e para as respectivas Prefeituras das Capitais solicitando os seus projetos e programas para ser apresentado na conferência nos EEUU. Somente algumas me responderam,  como Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba, Recife, Salvador e Campo Grande. Infelizmente o restante do país não deu nem resposta.
DG –O que o senhor espera após a sua volta ao Brasil?
SMR - Só espero de não ser punido, porque as coisas aqui infelizmente são ao contrário. Já sou desprezado mesmo: trabalho no Elisa Maria como única opção levar um tiro como a Patrícia levou trabalhando. O mais importante é que sou honrado no exterior,  na maior potência do planeta.



DG – Sonhos: quais já realizou e quais faltam?
SMR – Sonhos, como sempre falo a meus amigos, é só correr atrás. A formação de meus filhos na Universidade falta ainda ver.
DG – Para finalizar, o que o senhor diria a todos que lhe acompanham nesse momento?
SMR - Dentro de cada um existe algo chamado Força de  Vontade. Ela o levará onde você quiser chegar. Todos nós a temos, só espere o momento certo. Nunca desista, não pare no meio do caminho: você é um vitorioso, um guerreiro, um Brasileiro, um GCM, um exemplo... beleza?!



NOTA DO AUTOR DO BLOG:

Quando recebi o convite do meu colega Marcio Ribeiro para colaborar em uma pequeníssima parte de seu trabalho na referida conferência, me veio a ideia de entrevistá-lo. Algo sobre as entrevistas que eu ainda não havia comentado com você, visitante do blog, é que ser o primeiro a ter acesso às respostas das entrevistas é, de certo modo, incrível (apesar de parecer óbvio)! As perguntas foram encaminhadas por e-mail enquanto ele ainda encontrava-se nos Estados Unidos, ou seja, esta é a primeira matéria internacional do blog! Fico feliz por ter entrevistado o GCM Ribeiro: Obrigado por esta chance, Sargento!

Fotos/crédito: Marcio Ribeiro e Liliane Ferreira

Apoio: GrafiKart - Soluções em Comunicação Visual
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