30 maio 2013

Programa dá “puxão de orelha” em pichadores

Cesar Brustolin/SMCS

Palestra é uma das medidas socioeducativas previstas para quem é flagrado com o spray na mão

Adolescentes flagrados pichando em Curitiba participam de palestra na 3ª Vara da Infância e Juventude, acompanhados dos pais.
Sentados lado a lado em um auditório improvisado no pátio da Delegacia do Adolescente, 50 jovens menores de 18 anos e os respectivos pais acompanharam em silêncio uma palestra promovida pela Guarda Municipal de Curitiba na tarde da última sexta-feira. A idade, o estilo de se vestir e a atenção dos garotos às palavras podiam variar, mas o motivo de estarem ali era o mesmo: todos foram flagrados, neste ano, pichando muros ou imóveis nas ruas da capital.
O bate-papo, que também pode ser visto como um “puxão de orelha” coletivo, é uma das medidas socioeducativas previstas para quem é pego com o spray na mão. Pais e filhos são convocados a participar, depois de já terem passado por uma audiência no Ministério Público (MP). A intenção da palestra, resultado de uma parceria entre a Guarda, o MP e a 3.ª Vara da Infância e Juventude, é botar na cabeça dos adolescentes um fato crucial: pichação é crime, mesmo que muitos dos envolvidos imaginem o contrário.
“Calouros”
Aos pais, cabe reforçar as palavras ditas pelo diretor da Guarda, Cláudio Frederico de Carvalho, responsável pela conversa. Entre os adolescentes presentes, todos eram “calouros” na pichação e haviam sido flagrados pelos agentes pela primeira vez.
Duas mães, acompanhadas dos filhos de 16 anos, ainda se recuperavam do susto de semanas atrás, quando em um sábado de manhã foram chamadas às pressas para irem até a delegacia. “Foi um baque, um susto para toda a família. Só caiu a ficha para nós quando chegamos aqui na delegacia e demos de cara com todos aqueles sprays”, disse uma das mães.
Neste caso, as duas famílias não aguardaram a audiência para tomar uma atitude. No mesmo dia do flagrante, à tarde, com a ajuda dos dois garotos e de um pintor profissional, despicharam e repintaram por conta o muro, que tinha uma série de anúncios comerciais. O que não impediu que os pais tivessem que arcar com novo prejuízo: pagar a multa administrativa de R$ 714,20 à Guarda Municipal.
“Tanta coisa em que se podia gastar isso, tanta coisa que a gente precisa pa ra casa, e agora tenho que pagar R$ 70 todo mês por uma tolice dessas”, reclamou outra mãe durante a palestra. A multa, ao menos, pode ser parcelada.
Conscientização
Palestra destaca legislação e riscos da prática
A palestra é apenas uma das medidas impostas aos adolescentes flagrados pichando pelas ruas de Curitiba. Em média, cada um deles cumpre 80 horas de atividades, o que pode incluir a limpeza do local pichado e de outros imóveis rabiscados pela cidade.
A conversa com a Guarda Municipal, o pagamento da multa de R$ 714,20 pelos pais e o trabalho comunitário parecem surtir efeito: em média, os casos de reincidência dos adolescentes que passaram pelo programa não passam de 5%.
“A palestra tem o objetivo de conscientizar os jovens de que a pichação traz danos não só para os imóveis, mas também coloca em risco a vida deles. Além disso, é explicada toda a legislação sobre o tema, já que muitos nem sequer sabem que o que fizeram era proibido”, explica a juíza de Direito da 3ª Vara da Infância e Juventude, Maria Roseli Guiessmann.
Duração
O encontro com os adolescentes e os pais dura cerca de duas horas. Durante este tempo, são detalhadas as possíveis penas previstas aos pichadores, a diferença legal entre pichação e grafite e os riscos envolvidos na prática, que, como destaca o diretor da Guarda, Cláudio Frederico de Carvalho, pode ser a porta para outros crimes.
“Ao escalar uma marquise e pichar ao lado de uma janela, o pichador demonstra, mesmo sem querer, que aquele lugar é fácil de ser acessado para roubos”, destacou Frederico na palestra de sexta-feira, a segunda do ano.
950
É o total de ocorrências de pichação registrada em Curitiba pela Guarda Municipal por meio de denúncias entre janeiro e 21 de maio deste ano. É quase o triplo do volume registrado no mesmo período do ano passado, quando foram contabilizados 373 casos. As denúncias podem ser feitas de forma anônima pelo telefone 153.

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